Segundo a Bíblia, seu nome original não era Pedro, mas Simão. Aparece ainda uma variante do seu nome original, Simão Pedro, no livro dos Atos dos Apóstolos (Atos 10:18) e na II Epístola de Pedro (II Pedro 1:1).
No Evangelho de João (João 1:42), Cristo muda seu nome para כיפא, Kepha (Cefas em português), que em aramaico significa “pedra”, “rocha”, nome este que foi traduzido para o grego como Πέτρος, Petros, “Rocha” segundo a interpretação católica, fragmento (de pedra), “pedrinha” segundo a interpretação de alguns protestantes, a qual sustenta que a palavra grega que significa “rocha”, “pedra” é πέτρα, petra e que, posteriormente, passou para o latim como Petrus.[9]
Ocorre que o aramaico de “fragmento de pedra” ou “pedrinha” é a palavra evna e não kepha, sendo esta última a mencionada nas escrituras e traduzida para o grego Petros, que realmente significa “Rocha”.[10]
Na interpretação da Igreja Católica a razão para Jesus ter mudado o nome do apóstolo, bem como seu significado na citação bíblica «Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja; e as portas do Hades não prevalecerão contra ela.» (Mateus 16:18), a chamada Confissão de Pedro, Jesus estava comparando Simão a uma rocha. Desta forma, Cristo seria o fundador da Igreja Católica, do grego “katholikos” que significa para todos ou universal, sendo-lhe concedido, por este motivo, o título de “Príncipe dos Apóstolos” pela Igreja Católica. Esse título é um tanto tardio, visto que tal designação só começaria a ser usada após a sua morte cerca de um século mais tarde, suplementando o de Patriarca.
Em contrapartida, todos os escritos dos Pais da Igreja Primitiva sobre o tema, bem como aqueles dos eruditos católicos, entre os quais se destacam o sacerdote jesuíta Leonel Franca e o teólogo Scott Hahn, asseguram que, em grego koiné do século I, as palavras petros e petra seriam sinônimos, referindo-se assim, ao vocábulo rocha. Em suma, a Confissão de Pedro e sua mudança de nome por Jesus Cristo lhe concediam um papel proeminente na Igreja, principalmente em sua missão de “fortalecer os irmãos” (Lucas 22:32). Estes autores sustentam ainda que, embora a língua difundida no Império Romano nos tempos de Jesus e dos apóstolos fosse o grego koiné, devido à influência helênica na região desde mais de dois séculos antes de Cristo, os judeus do século I falavam principalmente o aramaico, mesma língua em que teria sido escrito originalmente o próprio Evangelho de Mateus. Em aramaico a palavra para fragmento (de pedra) “ou pedrinha” seria a palavra evna e não kepha. Logo. o mais provável é que o a palavra Kephas ou “Cefas”, que é transcrita cerca de oito vezes no Novo Testamento ou se encontra traduzida para o grego Petros nos Evangelhos, Atos dos Apóstolos e escritos paulinos, realmente signifique rocha e diga respeito à pessoa de Pedro.[11]
Observe-se que a confissão de fé de Pedro e a fala de Jesus são dois momentos distintos da mesma leitura. Em um primeiro momento a pergunta de Jesus aos discípulos é a seguinte: «Quem diz o povo ser o filho do homem?» (Mateus 16:13), ao que estes lhe respondem: «Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias, ou algum dos profetas.» (Mateus 16:14) e Jesus novamente pergunta: «Mas vós, quem dizeis que sou eu?» (Mateus 16:15), «Respondeu Simão Pedro: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo» (Mateus 16:16),[12] e como resposta Jesus diz a Pedro: «Bem-aventurado és, Simão, Filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus.» (Mateus 16:17-18), e acrescenta: «Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja; e as portas do Hades não prevalecerão contra ela.» (Mateus 16:18). Esse é o diálogo exaustivo do que a própria Bíblia apresenta em diversas traduções, como a católica Ave-Maria, o novo testamento dos gideões internacionais e a própria tradução brasileira do wikisource.[13]
Na interpretação protestante, protestantismo histórico ou ainda pentencostais e neopentecostais, afirma-se que a palavra para pedra é petra, que significa uma “rocha grande e maciça”, a palavra usada como nome para Simão, por sua vez, é petros, que significa uma “pedra pequena” ou “pedrinha”.
Nesse sentido, o próprio Pedro, em Atos dos Apóstolos 4:10-12, afirma que a declaração de Jesus se refere a si próprio, e não ao apóstolo:
«Seja notório a todos vós e a todo o povo de Israel que em o nome de Jesus Cristo o Nazareno, a quem vós crucificastes, e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, neste nome está este enfermo aqui são diante de vós. Ele é a pedra, desprezada por vós, edificadores, a qual foi posta como a pedra angular. Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não há outro nome dado entre os homens, em que devamos ser salvos.» (Atos 4:10-12)
No entanto, de acordo com a apologética católica, tem-se em contrário o seguinte argumento: que a referência de Pedro à “pedra angular” citada em Atos 4:10-12 diz respeito necessariamente à referência buscada pelo próprio Pedro em Isaías 28:16, para defender a posição de Jesus como o verdadeiro e único Cristo (messias), que diz o seguinte: [14]
«portanto assim diz o Senhor Jeová: Eis que ponho em Sião como alicerce uma pedra, pedra provada, pedra preciosa do ângulo de firme fundamento; aquele que crer, não se apressará.» (Isaías 28:16)
Não oferecendo portanto conformidade à voz do Mestre no que se diz em Mateus 16:13, mas sim conformidade com esse versículo do Profeta Isaías, que atuou como o principal precursor da vinda do Cristo, desta forma a fala de Jesus em Mateus 16:13 permanece com seu sentido intacto, direcionando-se Jesus a Pedro e não a “si mesmo” conforme a lógica protestante.[15][16]
Outros estudiosos protestantes de relevo corroboram tal entendimento tradicional da Doutrina Católica, como Nicolaas Ridderbos [en], afirmando que a frase “sobre esta pedra” se refira realmente a Pedro pois, partindo da análise contextual e gramatical, “somente Pedro é mencionado neste verso e o trocadilho realmente se refere a ele”.[17] Segundo ele, as palavras “sobre esta pedra [petra]” se referem a Pedro. Por causa da revelação que recebeu e da confissão de fé que ele fez, Pedro foi nomeado por Jesus para estabelecer as bases da futura Igreja. Somente Pedro é mencionado neste verso, e o trocadilho com seu nome se aplicou somente a ele. Outra interpretação baseada nas escrituras e ensinos de Jesus Cristo pelos registros dos evangelhos Jesus estava profetizando espiritualmente pois o próprio Jesus afirmou que seu reino não é terreno mas sim espiritual, sendo assim Jesus afirmava que através de suas palavras que repousaria o Espírito Santo sobre Pedro fazendo dele morada de Deus assim como todos os seguidores de Cristo como está escrito: “O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós. Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós vivereis.” João 14:17-19. E ainda em João 18:36 “Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.” e também o Apóstolo Paulo no meio do Areópago, disse: “O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas;” Atos 17:24,25. Tal interpretação é refutada por outros teólogos protestantes, como Donald Arthur Carson [en], para quem Cristo teria sido enfático em sublinhar a profissão de fé de Pedro e seu papel singular na Igreja, e não dos fiéis como um todo.[18]
A denominação cristã Testemunhas de Jeová considera que Pedro teve um importante papel no início do cristianismo, mas interpreta Mateus 16:17-18 de outra forma. Segundo a denominação, os Evangelhos relatam que em várias ocasiões depois disso os apóstolos discutiram sobre quem era o maior entre eles e se Jesus já tivesse dado o primado a Pedro, não haveria dúvida de quem seria o maior entre os apóstolos. Afirma ainda que, sendo israelita que desde jovem conhecia as profecias sobre a “pedra” ou a “pedra angular”, Pedro citou uma dessas profecias numa carta e explicou que essa “pedra angular” representava Jesus Cristo e teria usado o termo grego pétra (a mesma palavra usada por Jesus em sua declaração em Mateus 16:18) apenas para se referir a Cristo (I Pedro 2:4-8). Assim, a denominação Testemunhas de Jeová considera que Jesus realmente construiu sua igreja, sua verdadeira congregação, sobre ele mesmo (Efésios 2:20). Reconhecendo a posição de Pedro na congregação cristã do primeiro século, Paulo de Tarso escreveu que Pedro estava entre os que eram “considerados as colunas”. Portanto, para Paulo teria havido mais de uma ‘coluna’ (Gálatas 2:9). Além disso, afirma que, se Jesus tivesse especificamente designado Pedro como o cabeça da congregação, os outros cristãos o considerariam como uma coluna. Em uma passagem de Gálatas, Pedro deixou de tratar outras pessoas do modo correto, e Paulo o censurou. Escrevendo sobre isso, Paulo declarou de modo respeitoso, mas sincero: «Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe na cara porque era condenado» (Gálatas 2:11-14). A denominação conclui que “é óbvio que Paulo não achava que Cristo tinha construído sua ‘Igreja’, ou congregação, sobre Pedro ou qualquer outro homem imperfeito” e que ele teria acreditado que o alicerce da congregação era Jesus Cristo. Para Paulo, essa pedra seria Cristo (I Coríntios 3:9-11). Os Testemunhas de Jeová interpretam a frase “Tu és Pedro” a partir desse contexto: Jesus tinha acabado de perguntar a seus discípulos: “Quem dizeis que eu sou?” Sem hesitar, Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!” Jesus elogiou Pedro e acrescentou que construiria sua “Igreja”, ou congregação, sobre uma “pedra” ainda mais sólida do que Pedro, ou seja, a pessoa em quem Pedro tinha acabado de demonstrar fé — o próprio Jesus (Mateus 16:15-18).[19] Além disso, muitos Pais da Igreja (assim denominados alguns teólogos e estudiosos da igreja primitiva) escreveram que a “pedra” mencionada em Mateus 16:17-18 é Cristo. Cita o exemplo no quinto século, de Agostinho, que escreveu: “O Senhor disse: ‘Sobre esta rocha edificarei a minha igreja’, porque Pedro dissera: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente.’ Sobre esta rocha, que tu confessaste, eu edificarei a minha igreja.” Agostinho declarou várias vezes que “a Rocha (Petra) era Cristo”. Pedro não conhecia o título “papa”. Até o nono século, muitos bispos não romanos se denominavam papas, mas esse termo raramente foi usado como título oficial até o fim do século XI. Além disso, segundo a denominação, os primeiros cristãos não achavam que o primado supostamente dado a Pedro tinha sido transmitido a algum sucessor. Por isso, o erudito alemão Martin Hengel concluiu que não existe “nenhuma base histórica e teológica para o que veio a se tornar o ‘primado’ papal”.[19]